terça-feira, 9 de setembro de 2008







Parece que o Brasil despertou para uma realidade inquestionável: a categoria 250 será o foco das atenções nos próximos anos. Pensamento absolutamente correto, uma vez que a categoria 125/150 está mais do que implantada, solidificada e abastecida. A tendência para quem sai da 125 é buscar uma 250. É natural que surgisse a especialização também nessa categoria, na qual já existem as urbanas (Honda Twister e Yamaha Fazer) a fora de estrada (Honda Tornado e, em breve, Yamaha XTZ 250) e as custom Kasinski Mirage e Sundown V-Blade. E até já se comenta na volta da Suzuki Intruder 250, cuja descontinuidade no Brasil deixou muitos fãs inconsoláveis.
Na categoria custom 250 as duas opções têm características semelhantes. Tanto Sundown V-Blade quanto Kasinski Mirage têm motor em V, resultado de joint ventures com fábricas japonesas. O motor da Sundown é filhote da Yamaha Virago 250, mas produzido pela Zongsen; enquanto o motor da Kasinski Mirage é resultado de um acordo da coreana Hyosung com a Suzuki. Essa globalização produziu as motos que agora são vendidas no Brasil com as respectivas marcas brasileiras.
Mas as semelhanças param na configuração em V de dois cilindros de ambas as motos. Porque todo o resto é totalmente diferente, a começar pelo preço. Enquanto a Kasinski era anunciada a R$ 14.890, a Sundown estava tabelada em R$ 12.660, uma diferença que parece pouca em números absolutos, mas que pode se tornar inatingível se transformada em prestações e os respectivos juros.
Com exceção da Suzuki Intruder 125, as opções para entrar no mercado custom começam nestas duas 250. Por isso existe um interesse muito grande sobre essas duas. A Kasinski Mirage Premier já é mais conhecida, porque é uma evolução da Mirage. Recebeu pequenas, mas importantes mudanças no motor para reduzir a emissão de poluentes e melhorar o arrefecimento. O V2 tem duplo comando no cabeçote, 4 válvulas por cilindro e desenvolve a potência de 27,9 cv a 10.000 rpm (torque de 2,27 kgf.m a 7.500 rpm). Um radiador de óleo contribui para arrefecer o motor. Esse motor tem funcionamento suave, silencioso e emita pouca vibração.
A rápida observação desta ficha técnica já mostra que a proposta da Kasinski é de uma moto potente, porém com a faixa útil de rotação alta para um motor custom: entre 7.500 a 10.000 rpm. O resultado é um motor aparentemente “elástico” como se fosse uma grande custom, mas que exige muitas trocas de marcha para manter a velocidade em subidas. A velocidade máxima no teste foi de 132 km/h. O escape duplo além de muito parecido com o das grandes custom emite um som bem discreto.
Basta olhar para perceber que a Mirage segue uma linha custom clássica, com rodas de liga leve 16 polegadas na dianteira (110/90-16) e 15 polegadas na traseira (140/90-15). Os pneus Metzeler são de perfil alto e largos para caracterizar o estilão clássico. Tanque em forma de gota, bancos altos e largos, suspensão traseira com dois amortecedores reguláveis e guidão bem aberto. Tudo tradicional, sem muitas invenções. A Kasinski deveria rever os punhos de plástico de acabamento rudimentar. Um bom exemplo são justamente os comandos da Sundown V-Blade de alumínio polido, mais de acordo com a filosofia custom. Uma boa providência é jogar fora os punhos originais da Mirage e instslar os da Shadow 600.
A Kasinski traz um painel com instrumentos analógicos, com velocímetro, conta-giros e marcador de gasolina. Tudo em um painel cromado, acompanhado as luzes-espias. Um painel bonito, mas que deveria ser mais inclinado para evitar reflexos. Para uma custom, a primeira providência que faria seria rapar fora esse conta-giros feioso e que não combina com o estilo da moto.
Se a idéia era produzir uma custom urbana que encara viagens, o resultado foi alcançado. Em termos de desempenho, a característica desse motor é a fornecer “força” em baixas rotações, mas dá para viajar a 100/110 km/h com tranqüilidade. Por outro lado, a economia é uma das vantagens. Para a mesma arquitetura de motores, a média de consumo também foi semelhante, ficando na casa dos 25/30 km/litro para uma pilotagem muuuito sutil.
Mesmo com receita tradicional de freios (disco na dianteira e tambor na traseira), o freio dianteiro “morde” com firmeza, mas o traseiro é tão fraco que parecia até estar com defeito. Justamente o que se mais desespera em uma custom, que usa muito a frenagem traseira em função do peso concentrado nesta região. Os comandos são bem posicionados, mas a alavanca do freio dianteiro é dura demais!
Rodar em uma estrada de asfalto liso pode ser muito agradável, mas qualquer buraco vai fazer o motociclista pular muito. As suspensões são duras e com pouco curso. Se eu tivesse uma Mirage trataria de substituir o óleo das bengalas e descobrir um par de amortecedores traseiros para colocar no lugar dos originais. Outra troca benvinda é o farol, porque o original é fraco, de facho diluído e o plástico fica manchado rapidamente.
Como convém a uma custom, a Kasinski pode – e até deve – receber uma série de acessórios. Já existem dezenas de Mirage 250 tão equipadas que mal dá para descobrir que moto se trata. O mercado de componentes já oferece um elenco de opcionais para decorar a Kasinski. Em suma, assim como a Comet 250, a Mirage não é uma moto que basta comprar e sair rodando. É preciso fazer uma série de ajustes para deixá-la mais confortável, bonita e gostosa de pilotar. Também não fui com a cara da corrente original, muito fina demais. Enquanto as grandes japonesas Honda, Yamaha e Suzuki continuarem desprezando as custom 250, estas duas poderão satisfazer o consumidor e por muito tempo. Aliás, pelos R$ 15.000 pagos nesta custom é possível encontrar uma Yamaha Virago 535 em excelente estado. A justificativa para adquirir a Mirage é o sonho de uma moto zero km, ou a facilidade de tirar pelo consórcio. Ou ainda, para quem usa a moto apenas para lazer, em passeios curtos nos finais de semana.
Assim que devolvi a Mirage ao dono que a cedeu gentilmente para este teste, peguei a Yamaha Fazer 250 e não senti a menor saudades da custom!
*Preços no consórcio e ficha técnica no site oficial
www.kasinski.com.br



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